quinta-feira, outubro 26, 2006



As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos «slogans» publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras.

José Saramago

sexta-feira, outubro 20, 2006

Falta de ...

Os dias foram longos e pesados, assim como um grande período de Inverno que demora uma eternidade a passar. A mente começa a ficar cansada e todos os pensamentos se dispersam como se tudo quisesse sair ao mesmo tempo.
Aos poucos o corpo começa a ceder e por mais força que faça para que isso não aconteça, o sono e o cansaço apoderam-se de mim e torna-se impossível resistir. Porém agora tude se começa a recompor aos poucos, foi apenas uma semana difícil e cansativa, mas nada que umas horas de sono não cure.
Desde já peço desculpas por esta ausência um pouco prolongada, mas o tempo tem sido escasso e a preguiça enorme.

Um óptimo fim-de-semana para todos!!

sexta-feira, outubro 13, 2006


Como não me surgiu nada melhor deixo-vos com esta linda imagem e mensagem, para que tenham um óptimo fim de semana.

sexta-feira, outubro 06, 2006


Para Reflectir!!

"Querida mãe, Querido pai,
Então que tal? Não. Não vou começar assim. O trocadilho com a música dos Rio Grande talvez condiga com o meu estado de espírito actual de alegria e de alívio pela decisão tomada, mas sei que quando encontrarem e lerem esta carta o vosso sentimento será de tristeza, de perda e desespero. Não vem portanto a propósito.

Querida Mãe, Querido Pai,
Demorará decerto algum tempo até estranharem a minha ausência, tão habituados que estão aos meus súbitos desaparecimentos, com os amigos ou sozinho, aqui, para a quinta ou, como ultimamente, para lugares recônditos dos quais nunca vos falei mas que são tão piturescos e bonitos que dariam bem para um livro daqueles que se oferece aos amigos em ocasiões especiais.
Desta vez é a sério. Chega de mentiras, de encobrimentos, de mistificação. De vos olhar nos olhos e dizer uma coisa em que saiba não estarem a acreditar e em que os Pais saibam que eu sabia que tudo não passava de um teatro, de um código, de um embuste.
Durante anos fiz-vos a vida negra. Foi assim, não é preciso dourar a pílula. Desta vez, não. Sei que vos dei os piores pesadelos, as horas mais tristes, o repúdio dos amigos, o isolamento social e, machadas após machadas, roubei-vos, para além de dinheiro e objectos, a vossa vida própria e a vossa vida de casal.
Espero que passados os momentos amargos que certamente se seguirão, o pai e a mãe encontrem a tranquilidade e o sossego que merecem.
Fiquem conscientes de que tentaram tudo, os tratamentos, as comunidades, as mudanças de vida, tudo o que vem nos manuais e nos saberes médicos. Eu é que não consegui. Foi sempre mais forte que a minha vontade. E quando os psicólogos e psiquiatras me fizeram regressar quase ao útero materno e abriram os olhos para as hipotéticas causas de tudo isto, mesmo quando consegui ser espectador e analisar o "filme da minha vida", nunca consegui regressar e encontrar nas pessoas, nas coisas e nos sítios a força que me falta para sair. Não foram os dealers que me melgaram, nem as más companhias que me cegaram. Fui eu que não consegui. Só isso.
Dentro de alguns instantes irei fazer o que decidi. Não vou dizer que vou dar mais um chuto, meter o produto, fazer uma tripe ou outra coisa qualquer. Não. Chega de sofismas, de enganos. O que vou fazer é injectar nas minhas veias um produto tóxico, em quantidades letais. É pura e simplesmente isto. E se ser-se advogado, juiz e carrasco em causa própria pode parecer no mínimo estranho, no meio de tanta anomalia não é mais do que a gota de água no rio.
O Douro está lindo nesta fim de tarde de Setembro. As vindimas já terminaram... Ah!, os caidores estiveram cá mas esqueceram-se da empena junto ao meu quarto, aqui no sotão. Lembre-lhes, fica feio, para quem vê desta janela.
Querida Mãe, Querido Pai então que tal... não, não irei aí pelo Natal. Um abraço. Um beijo. Um grande beijo. E uma enorme saudade por não ter conseguido que as coisas fossem diferentes do que foram. Mas a imensa certeza de que, pela primeira vez desde há muito tempo, sou senhor do meu próprio Tempo do meu próprio Destino. Não será esse, afinal, um previlégio dos deuses?

Do vosso filho"